ENTREVISTA COM PEDRO MANUEL, DIRETOR ADMINISTRATIVO DO AUTÓDROMO AYRTON SENNA, CARUARU/PE
G83 - Senhor Pedro, nós ficamos sabendo de um possível investimento da ordem de 5 milhões de reais para reforma do autódromo de Caruaru. Procede esta informação?
PM – Primeiramente quero mandar um abraço a todos que fazem o portal Garagem83, sucesso pra vocês e parabéns pela iniciativa. Procede sim, é verdadeiro! Em 2009 quando nós fomos convidados pelo prefeito José Queiroz e pelo deputado federal Manuel Queiroz para assumir o autódromo eu mostrei a eles a necessidade de uma reforma, porque é um equipamento com 20 anos e ele precisa de modernização, tem que se atualizar, a fim de que possam vir outras categorias como StockCar, Itaivapa GT Brasil. Hoje mesmo sem a reforma já consegui trazer a Fórmula 3 Sulamericana que nunca tinha andado aqui e este ano andou pela segunda vez; este ano talvez nós possamos trazer uma etapa da Audi que ainda estamos em conversação. Enfim, ele (Prefeito José Queiroz) acatou, aceitou a ideia mas disse que não tinha como disponibilizar recursos para a reforma porque o município de Caruaru passava por algumas dificuldades financeiras deixadas pela administração anterior e isso iria mexer com as finanças do município, então eu fiz o projeto mas até então todo mundo pedia a reforma mas não dizia pra quê nem porquê; foi feito um projeto, que inclusive eu faço questão de mandar para o seu email (do entrevistador do G83), para que vocês divulgem. O projeto foi feito e foi encaminhado para o prefeito, para o governo do estado, para a iniciativa privada... eu insisti, insisti, recebi muito NÃO; NÃO de todos os lados; NÃO, eu não posso, eu não quero, enfim. Mas eu nunca desisti da ideia de reformar. Foi quando o governador do estado, o Sr. Eduardo Campos, se comprometeu a reformar o autódromo. Esse projeto começou em 2009, em março daquele ano e terminou em setembro; e de lá pra cá a gente vem lutando, lutando, lutando. Ano passado foi feito um projeto de engenharia, porque o projeto técnico, esportivo, este já estava pronto; eu consultei a CBA, a Federação, consultei algumas categorias como Stock, alguns pilotos renomados como Paulo Negrão, Ingo Hoffman, enfim, todos eles deram opinião da coisa pra que saia a contento e ano passado foi feita a licitação para a execução do projeto estrutural. Tá pronto! Esse ano em Abril a Secretaria de Esportes, a Dona Ana, ela assinou o projeto a pedido do Governador; o projeto está pronto e eu recebi este projeto semana passada; estou analisando, estudando e segunda-feira próxima (dia 26/Set/2011) nós temos uma reunião com a Secretaria de Esportes em Recife para que a coisa tome rumo. Portanto, é uma verdade, é uma realidade. O governador mais uma vez se comprometeu a reformar o autódromo. Nós mostramos a importância de se ter um autódromo no Nordeste, porque no Nordeste só existem dois autódromos: Caruaru e Fortaleza. E pelo sucesso da fórmula Truck, a quem devemos muito, o automobilismo brasileiro vem subindo de uma forma a contento.
G83 – Por ser o autódromo de Caruaru um equipamento municipal, nós sabemos que tem que haver, para reformas, a questão da licitação. A questão burocrática é um entrave para o andamento do projeto?
PM – Dinheiro público... quando você tem dinheiro seu, você faz dele o que quer; dinheiro público tem que ter transparência, tem que ter licitação, tem que ter tudo! É um projeto orçado na casa dos 5 milhões de reais, para reforma e modernização do autódromo, onde vai se manter o mesmo traçado, onde vai se acrescentar um outro traçado. Vai ser criada uma curva de alta, vai se alargar a reta oposta em 2 metros; vai se estender a reta principal para se atender às arrancadas de 201m e 402m e a pista vai ser totalmente recapiada; vai ter uma nova lanchonete, uma nova bateria de banheiros, enfim. O custo do projeto foi de 147 mil reais, esse já está liberado e pago. E quando dermos o OK no projeto iremos na próxima semana ao Rio de Janeiro, na CBA, levar o projeto em mãos para que a coisa seja acordada entre todos e iremos partir para a captação de recursos. Eu espero que pela proximidade do final do ano, onde tudo fica mais difícil, irei fazer o possível, com a ajuda de todos, com a ajuda do prefeito Queiroz, do deputado Manuel Queiroz, que a gente consiga esta verba até o final de Novembro deste ano. Porque depois que o Governador autorizar a verba, a obra dentro de 90 dias estará pronta!
G83 – Há uma sintonia entre a prefeitura de Caruaru e o Governador Eduardo Campos?
PM – Perfeita! Essa é uma grande vantagem. Foi o que eu mostrei a eles desde o começo. Caruaru nunca teve uma sintonia tão afinada como tem agora. O governo federal com o governo estadual e com o governo municipal. Além de existir uma amizade pessoal entre estes três poderes, existe um interesse na cidade de Caruaru, pela grandeza da cidade. O governador tem um carinho muito grande por Caruaru. O presidente Lula tinha esse carinho por Pernambuco e a presidenta Dilma está mantendo esta linha; então, a grande chance, a grande oportunidade nossa é essa. Por isso que eu acredito muito que esse projeto saia, entendeu?
G83 – Com esta reforma, quais os possíveis eventos que o autódromo de Caruaru poderá abrigar?
PM – Olha, com essa reforma realizada nós mantemos a fórmula Truck, nós mantemos a fórmula 3 Sulamericana, nós temos a certeza de trazer a StockCar, nós temos a certeza de trazermos a GT Brasil Itaipava; um brasileiro de motovelocidade, um brasileiro de arrancada, e, eu tenho em mãos uma carta assinada pelo irmão do piloto Felipe Massa e pelo pessoal da GT. Porque o Felipe Massa tem uma empresa chamada Massa Sports onde ele tem 3 categorias; e eles disseram que na hora em que o autódromo estiver pronto irão trazer as três categorias. Então nós teremos em 9 meses, porque o calendário automobilístico abre em Março e fecha em Novembro, a possibilidade de até 8 eventos nacionais. Isso é muito bom pro Nordeste e não só para Pernambuco. Eu estive agora em Salvador, numa reunião da CBA, que coincidiu com a StockCar de Salvador, onde pilotos, chefes de equipe e até donos de equipes, a pergunta unânime que me faziam era: “A reforma sai?” – “Queremos andar lá...” – “Nós queremos ir pro Nordeste”. Então a nossa grande chance é essa e eu acredito nisso sim Wellington.
G83 – A cidade de Caruaru sempre foi destaque na área comercial. Com a reforma do autódromo será possível alavancar o turismo regional?
PM – É verdade, é verdade. Hoje quando a Truck vem pra Caruaru, com 30 dias antes não existe vaga de hotel pra mais ninguém. A cidade movimenta em 30 dias, porque é o tempo para montagem, execução e desmontagem do evento, movimenta perto de 2 milhões de reais. Então você imagine 6 eventos, vamos colocar 3 grandes: a Truck, a Stock e uma GT Brasil. Isso é muito bom não só para o município como também para a região. São divisas, são recursos que vão chegar aqui e aqui vão ficar. Isso eu não tenho a menor dúvida.
G83 – O Brasil possui mais de 5 mil municípios e apenas 15 autódromos, dos quais alguns estão sendo desativados. Qual a comparação com a Argentina?
PM – É verdade! O Brasil tem hoje 5202 municípios, se eu não me engano, e tem 15 autódromos, dos quais o do Rio de Janeiro está sendo desativado por causa da construção das obras para as Olimpíadas de 2016; o de Goiania/GO, a área foi vendida para o Alphaville; e outros que estão sem condições de uso. Então a gente se resume a praticamente 12 autódromos no Brasil. Já na Argentina, que tem um parque automobilístico muito menor do que o nosso, que tem uma receita muito menor do que a nossa, que tem 1230 municípios, possui 86 autódromos. Então dizer que o brasileiro é apaixonado por carros e velocidade eu não considero verdade. O brasileiro é apaixonado por Ayrton Senna. Isso sim é um mito, insuperável sem dúvida. Em relação ao turismo que você me perguntou antes, o automobilismo e a motovelocidade agregam muito mais para o turismo do que propriamente para a área do esporte. Porque quando se fala em esporte, se fala em futebol, vôlei, basquete, natação, ginástica mas ninguém fala em automobilismo. Todo mundo fala, e eu discordo, que automobilismo e motovelocidade são esportes de rico e na verdade não é; esporte de rico é futebol, porque um ingresso custa cerca de 50 reais e bota 50 mil pessoas num estádio, e eu adoro por sinal. Esporte de rico é futebol onde você paga 100 milhões de euros num jogador. Isso é esporte de rico, e de massa. Se o governo de uma forma geral, se as grandes montadoras, os grandes patrocinadores se voltassem um pouco mais para o automobilismo e para a motovelocidade e massificasse essa coisa, isso deixava de ter essa imagem de rico. Motocross não é de rico. O equipamento é caro, é verdade, mas ele é acessível para todo mundo.
G83 – A FPA (Federação Pernambucana de Automobilismo) está tentando aproximar as concessionárias da região de que o racha legalizado nos autódromos ainda tem a ver com os rachas de ruas. Ainda existe este tabu?
PM – Existe, existe. Antes de mais nada temos que parabenizar o atual presidente da Federação Pernambucana, o Waldner Bernardo de Oliveira, meu amigo Dadai, conhecido por todos nós como Dadai, não só ele, como eu também faço parte do quadro da federação há cerca de 12 anos e desde a época de Clayton, de Gilberto Lira, de Zeca Monteiro, são incansáveis... eles procuram fazer de tudo pra que esta mística da arrancada seja quebrada. Eles vêm conseguindo aos poucos, é verdade. Temos que trazer as montadoras pra cá para que a gente divulgue isso, porque tudo é dinheiro e quem tem dinheiro são eles. O “pega de rua”, essa coisa marginalizada, essa coisa absurda, que ainda existe Brasil afora, o racha de rua que não deixa de ser o “pega”, já a arrancada não, a arrancada é uma coisa profissional. Se você olhar, vamos dar um exemplo que todo mundo conhece aqui do nosso ramo, o Parrudo, esse ano ele não está andando. Parrudo foi campeão brasileiro em 2009 na categoria A, vice-campeão na B. Parrudo tem um carro de 150 mil reais; o Gol dele tem 1100 HP, quer dizer, não é todo mundo... isso não é pega! Isso não é racha! Isso é arrancada profissional. A arrancada ela evoluiu muito nos últimos anos. E aqui na nossa região ela é muito forte em Recife, muito forte em João Pessoa, muito forte em Salvador, muito forte em Sergipe, então, a arrancada ela evoluiu muito. Se você vem pro autódromo e passa o dia de Domingo vendo os carros que vão para a arrancada, você não vê mais aqueles carros acabados como existiam no começo não! São carros profissionais de alta tecnologia. Essas empresas que vendem essas tecnologias deviam estar com eles, junto com eles, tecnologia de pneus, de tudo! A coisa mudou, evoluiu. Eu tenho um parceiro em vista aí muito grande que pretendemos fazer uma “arrancada noturna”, trazer esse pessoal que faz racha, que faz pega pra dentro do autódromo. Eu não quero que ele venha fazer racha aqui dentro não. Eu quero que ele venha assistir, que ele conheça a arrancada profissional. Eu quero que esse pessoal que faz arrancada alugue carro de arrancada pra quem quiser arrancar. Se você quiser arrancar hoje você é obrigado a comprar um carro. Eu tenho que comprar um carro pra ajeitar e arrancar... não! No automobilismo é assim que funciona. Se você quiser andar de fórmula 3 você aluga um carro de uma equipe de fórmula 3 e vai andar de fórmula 3; você anda de Audi, de Pickup, de StockCar Júnior, StockCar Light, você paga por temporada, você paga por corrida. Na arrancada ainda não tem isso. Esse pessoal que faz arrancada tem que pensar dessa forma. Você só vai tirar esse pessoal da rua e colocar na arrancada quando você começar a mostrar como funciona a arrancada. E nós estamos juntos nessa luta incansável para que essa coisa aconteça. Graças a Deus o Pernambucano de Arrancada, os meninos com muito sacrifício, estão fazendo, estão conseguindo levar... se a gente conseguir realizar uma ou duas etapas noturnas e divulgar, eu acho que a gente vai chegar lá. O princípio é esse. Não se confunda pega de rua com arrancada, de jeito nenhum.
G83 – Em Fortaleza, com o Fred, a arrancada noturna está o maior sucesso. Porque ainda não chegou por aqui?
PM – Como eu lhe disse, são ideias que nós estamos tendo, tendo não porque na verdade hoje nada se cria, tudo se copia. E o que é bom tem que ser copiado. Existe a vontade de fazer, a intenção de fazer. Agora falta quem faça! Também não adianta ninguém me procurar e dizer “o autódromo vai fazer tudo”, não, eu não posso fazer tudo! O município não tem que estar se preocupando com isso, o equipamento tá aqui, o principal está aqui à disposição de todo mundo, é o equipamento. Agora se juntar os promotores de arrancada, o município e alguns patrocinadores ela (arrancada noturna) acontece. Ela tem que ser forte a arrancada diurna e a noturna. Eu soube que Fortaleza está estourando..., começou devagarinho e hoje é um sucesso. É isso que eu quero fazer aqui. Eu vou tentar fazer aqui. Agora isso é igual a justiça, nós temos que ser provocados. A justiça tem que ser provocada para fazer alguma coisa, a mesma coisa é aqui. Não adianta dizer: os portões estão abertos, a partir das 8 h pode vir quem quiser. E aí, como é que você vai controlar isso? Alguém tem que fazer. O autódromo por sí só não se autopromove; ele tem um equipamento que disponibiliza através de contrato pra que algum promotor que queira o faça. Falta eles terem coragem de fazer. De nos procurar e fazer.
G83 – O público que comparece nas arrancadas aqui em Caruaru a maioria é oriunda do vizinho estado da Paraíba. Será que falta um pouco mais de divulgação na mídia local?
PM – É verdade. Falta incentivo, falta divulgação. Faltam patrocinadores! Falta dinheiro pra fazer. E infelizmente a gente não tem. Você falou agora com certeza absoluta, pois o maior número de pilotos que fazem a arrancada do pernambucano são da Paraíba, são de Sergipe e da Bahia. O menor número é aqui de Pernambuco, num autódromo que está a 130 Km de Recife, que está a 100 Km de Garanhuns, que está a 100 Km de Arcoverde, que está a 200 Km de Maceió, que está a 400 Km de Natal...
G83 – E praticamente não há nenhum piloto aqui da região...?
PM – Muito pouco, muito pouco... o número é muito reduzido. E eu acho que os interessados nisso tem que sentar junto com as federações e passar um dia se for preciso, reunidos, conversando, avaliando, analisando, como se fazer para se trazer esse público para cá. O automobilismo..., o pernambucano acabou! Infelizmente acabou. A verdade é essa. Esse ano nós já estamos em Setembro e não tivemos nenhuma etapa do pernambucano de turismo; não tem dinheiro... Ah, mas é porque não tem patrocinador! Mas temos que ver que o patrocinador não coloca a marca dele onde não tiver uma coisa organizada, onde não tiver público, onde não tiver mídia, onde não tiver imagem... ele não bota. O patrocinador coloca a imagem no intuito de “tirar”, pois ninguém faz nada pra ninguém de graça não! Essa é a verdade. Então se for organizado, se tiver o apoio de alguém a coisa acontece. Então, nós estamos nessa situação. E infelizmente a situação é essa, infelizmente.
G83 – Mas não é preciso haver o investimento para depois haver o retorno ou tem que funcionar ao contrário: haver retorno para depois investir?
PM – Tem que ter investimento inicial pra poder ter retorno. Mas quem pode investir não se pronuncia. Não arrisca! Você não vê uma FIAT aqui dentro, uma VOLKSWAGEN, uma GM, uma FORD, você não vê uma marca de pneu, você não vê uma marca de turbina, você não vê absolutamente NADA. Você vê, como é testemunha disso, um Elvis e uma Débora com muita boa vontade fazer um evento na cara e na coragem, sabendo que a qualquer momento pode tirar do bolso para cobrir as despesas, que por sinal é uma despesa pequena... uma despesa pequena. A arrancada já foi um evento muito maior do que isso que estamos vivendo hoje, só que ela foi desorganizada e ninguém acredita. Hoje está organizada e não tem público; pra você recuperar uma imagem negativa é muito mais difícil. É melhor você começar alguma coisa nova do zero do que fazer alguém acreditar numa coisa ultrapassada. Digamos, por exemplo, que você tenha vontade e condições de correr. Me diga uma escola hoje de automobilismo no Brasil? Nenhuma..., existe de moto, mas de automobilismo não. Você tem a carteira (da CBA), faz um testezinho rápido e vai correr, vai embora.
G83 – Mas no Brasil a escola básica do automobilismo é o kart, não é?
PM – Sim, que está acabando! O automobilismo tem que entrar no sangue como entra a vaquejada, como entra o rodeio, como entra o futebol, como entra qualquer outro esporte. Você tem que pegar a criança, levar para o kartódromo, alugar aquele carrinho pra ele andar, se não for assim não funciona. Ah, eu quero arrancar! Mas eu não tenho 50, 60 mil reais pra pagar num carro de arrancada. Mas eu tenho mil, dois mil pra alugar um carro e arrancar um dia. Então se você não mostrar a ele que aquilo é bom ele não vai saber nunca. Ou seja, ele vai ficar apenas na “vontade”. Se não se fizer isso novos pilotos não vão surgir.
G83 – Existe um ditado que se perpetua aqui no Nordeste de que o piloto nasce, cresce e morre no kart, justamente por causa da falta desse incentivo e de condições.
PM – É verdade. Existem aqueles que nascem, crescem e morrem no kart por prazer de andar no kart mas a grande maioria não tem a possibilidade de subir de categoria porque é mais caro, embora tenha talento. Ele sabe fazer mas não teve oportunidade. Aí acaba tudo. Hoje, vamos falar de Pernambuco: faça uma relação de 15 pilotos de velocidade! Destes 15, 10 são antigos... você só fala do saudosismo, dos pilotos que andaram aqui. Eu já fiz aqui, não como diretor do autódromo mas como comissário da Federação e da CBA em provas de turismo com 28, 30 carros no grid e já fiz com 6 amigo, que é o mínimo. Quer dizer... é brincadeira! Sai 10, quebra 6, 4 ou 5 e ficam pelo meio do caminho. O piloto não tem dinheiro pra se manter... aí é aquela coisa, é aquele jogo de interesse, aquela roda gigante, aquela bola de neve: se não tem público não tem mídia, se não tem mídia não tem patrocinador... enfim, aí vai. E ninguém chega! Alguém tem que fazer alguma coisa realmente senão vai acabar tudo. Vai acabar kart, vai acabar jeepcross, vai acabar arrancada, vai acabar tudo! Você vê a própria arrancada; na hora que a arrancada se profissionalizou, na hora que a arrancada se mostrou como coisa séria nós saímos de 60, 70 carros pra 20, 30. Que era o que tinha. Agora estão fazendo essa categoria “desafio”. O que é o “desafio”? É um carro comum de passeio que você coloca no autódromo e arranca com outro do mesmo nível pra você tomar gosto pela coisa. Sem isso não vai não, não consegue não! Ou se coloca na cabeça dos promotores, dos patrocinadores que a coisa funciona bem mas tem que ser feita de uma outra forma senão não vai.
G83 – Para finalizar esse papo sobre automobilismo, hoje um autódromo padrão custa em torno de 50 milhões de reais. Na sua opinião, autódromo pode ser rentável, pode dar lucro?
PM – Pode, ele pode sim! Um autódromo de nível internacional com 30 boxes, torre, etc. ele chega a 50 milhões sim. Ele pode ser rentável sim. Infelizmente a gente tem que falar por enquanto em que região ele está. Hoje tudo se concentra no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Tudo acontece alí. O Rio de Janeiro fazia fórmula um; acabou a fórmula um, acabou o autódromo. Hoje não serve pra nada! Até porque vão desmanchar pra fazer a Olimpíada. São Paulo é um sucesso! São Paulo gastou em 5 anos 25 milhões de reais pra manter o autódromo pra fórmula um. São Paulo é a capital da américa do Sul, é verdade... tudo acontece em São Paulo. Em São Paulo você chega às 07:00h no autódromo na manhã de Domingo já tem carro andando até 17:00h da tarde; são cinco, sete categorias diferente que andam num final de semana. Você leva público! Mas se não tiver 4 ou 5 eventos de porte nacional ele não se mantém. Se alguém pensa em construir um autódromo que não gaste 50, gaste 20 milhões... vai passar o resto da vida e ele não tira esse dinheiro se for pensar apenas em fazer eventos locais, pra fazer arrancada, velocidade local, motovelocidade, veloterra, enfim... não tira! Esqueça isso. O município se beneficia sim porque as divisas que o público deixa vão todas pro município. Na hora que você parte pra uma coisa dessas você tem que interagir muito: municípios, estado e federações. Porque o grande giro de dinheiro fica pro município e pro estado, que são os impostos. Eu lhe disse inicialmente que a Truck movimenta 2 milhões de reais em Caruaru uma vez por ano; e 2 milhões de reais não são 2 mil nem 2 reais. É uma renda considerável, além da mídia nacional. Você passa pelo menos 15 dias na mídia nacional. Só se fala daquilo. Então, se todo mundo olhar sob esta ótica, a coisa fica rentável sim.
Reportagem: Wellington Sena
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