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Entrevista com o antigomobilista Dr. João de Brito

Image gallery 31/10/2011
Talvez seus avós já tenham se consultado com este que é o dermatologista mais antigo da Paraíba, o Dr. João de Brito. O Dr. Brito, como é conhecido entre os antigomobilistas, além da paixão pela medicina também cultua até hoje a paixão por carros antigos. Membro da Academia Paraibana de Medicina e um dos fundadores do Clube dos Carros Antigos da Paraíba, o Dr. Brito nos concedeu esta entrevista nas dependências da bela casa no bairro Cabo Branco e falou sobre sua mais recente aquisição: Um Chevrolet Biscayne 1958.

[G83] Sr. João, quando despertou sua paixão por carros?

[JB] Há muito tempo que gosto de carros, inclusive em certa ocasião quando fui renovar minha CNH, me disseram que eu havia tirado a carteira aos 16 anos e na hora criou-se um “mau estar”. Realmente eu disse que não me lembrava pelo fato de ter tirado a CNH aos 16 anos! Então eu disse que queria todas as penalidades possíveis desde que vocês me devolvam os meus “16 anos” (risos), hoje tenho 76 anos, sou há 60 anos habilitado como motorista, e o primeiro carro que eu dirigi era muito antigo; eu tinha um tio que possuía um Ford 1928 e uma caminhonete que era uma adaptação deste mesmo carro. Naquela época não existiam caminhonetes e tinha-se que “cortar” um Ford e adaptá-lo para as funções de um veículo de carga. Eu praticamente comecei a dirigir neste Ford 1928, que já era de marcha. No ano anterior tínhamos o Ford-T (“pé-duro”) e o Ford-A, já de marcha, foi no que eu aprendi a dirigir. Aprendi a dirigir este veículo no pátio de minha casa no início dos anos 30, lugar que hoje é a praça da Independência, junto àquela casa que foi do ex-presidente João Pessoa. 

As estradas naquela época eram toscas. Depois que você entrava na Av. Epitácio Pessoa tomando ao lado da antiga usina de luz ou o resquício que ainda existe (prédio da Energisa e antiga Saelpa), ali já entrava numa mata, quando você queria ir para Mandacaru. Então nós íamos naquela estrada praticamente por dentro da mata virgem e quando nos deparávamos com uma carroça, tínhamos que colocar o carro na barreira... indo em frente nós encontrávamos algumas casas de palha até chegar ao nosso sítio. Apesar de ser próximo da cidade, eu percorria aquelas estradas de terra desde os 12, 13 anos de idade já dirigindo carro, é uma parte de minha vida que eu recordo com muita paixão! Quando eu pude, há cerca de uns 20 anos atrás, procurei comprar alguns carros antigos e no qual organizamos um clube (Dr. Brito refere-se ao Clube dos Carros Antigos da PB) onde também sou fundador. De lá pra cá eu já visitei muitos outros clubes, museus... tenho amigos em São Paulo que possui cerca de 170 carros antigos na garagem; no Uruguai, na Argentina também tenho amigos antigomobilistas. Mas eu digo sempre que eu não sou um colecionador como muitos o são! Eu me classifico, eu me rotulo como um usuário do carro antigo, de uma forma sentimental, porque o carro me traz o sentimento de um passado; dos amores da juventude, de um passado onde tudo era muito pitoresco, muito belo, muito sentimental.

[G83] Qual a maior dificuldade em ser antigomobilista?

[JB] Acho que a maior dificuldade é conseguir restaurar um carro antigo. Nós ainda não temos muita mão-de-obra pra isso! Se não fosse isso, acho que eu teria até muito mais carros antigos na garagem. 

[G83] Os automóveis hoje em dia, em comparação com os do passado, estão cada vez mais descartáveis. O que o Senhor acha que mudou durante as últimas décadas em relação aos carros fabricados nos outros países?

[JB] Bom, a mudança se deu no mundo inteiro. Os carros foram concebidos na dependência de países que tinham aquelas cidades, como ruas, avenidas, garagens, etc. Nos EUA, por exemplo, tinha a cultura de carros grandes porque as avenidas são largas, as entradas são largas; como havia a abundância de petróleo se faziam motores grandes como V8 ou V10. Já na Europa a coisa era diferente porque tudo ficou difícil no pós-guerra: combustível, petróleo, acomodações, etc., Guardando-se, todavia, as devidas proporções. Isso contudo não era regra geral, pois na antiga Alemanha Hitler fez as famosas autoban’s, que foram as melhores estradas da Europa naquela época. Hoje na Europa têm-se autovias em quase todos os lugares, inclusive em Portugal. Na Holanda os carros foram feitos menores em função de tudo isso. Havia uma diferença gritante entre os carros europeus e os americanos. Aqui no Brasil só verificamos uma expansão da indústria automobilística com o governo de Juscelino Kubitschek, e só uma melhora de qualidade após o governo Collor. 

[G83] O Senhor acredita que “antigomobilismo” é um hobby que possa se extinguir com o advento das novas gerações?

[JB] Eu acredito justamente no contrário! Não apenas em relação a carros antigos, mas também em outras áreas o que estamos vendo é esta mudança cultural. Creio que não vai acabar porque há uma cultura para preservar as coisas antigas, isso em qualquer atividade. Nós vemos memorial de carros antigos em Recife, em Natal... e acho que isso só tende a crescer.

[G83] E está faltando um museu do carro antigo aqui na Paraíba?

[JB] Sem dúvida! Existe um museu no Ceará, que é muito bom! Existe mais de dois no Pernambuco, também muito bom... Mas infelizmente ainda carecemos de um espaço, um museu como você bem frisou. E acho que deveríamos fazer um aqui para poder perpetuar a história. Aqui em João Pessoa, por exemplo, temos muitos colecionadores particulares que tem muitos veículos antigos, mas que não é do conhecimento do público justamente pela falta deste espaço. Cada um tem uma tendência para carros antigos; a minha é por carros Chevrolet e carros Ford. Pra você ter uma ideia eu tenho um amigo que gosta de Corcel. Ele tem 30 corcéis! Outro já gosta de caminhões antigos: este tem 50 caminhões na garagem! Cada um tem a sua loucura. Eu, por exemplo, tenho preferências por carros da década de 40 e 50. Então, como eu só andei em carros Chevrolet ou Ford, minha obsessão é só por Chevrolet ou Ford. Eu tenho um Ford 1929, que foi o carro que eu aprendi a dirigir; tenho um Ford 1940 que praticamente foi da família e que eu andei o tempo todo nele; um Ford 1941 e outro 1951, que foram do meu pai; um Chevrolet Biscayne 1958, sedã, de 4 portas, automático que foi o último que eu adquiri nos EUA recentemente, recuperei e estarei indo pela primeira vez daqui a alguns dias à Gravatá/PE. Tenho também um Chevrolet Impala Belet 1951. Os Chevrolet são 8 cilindros em “linha” e os Ford, 8 cilindros em “V”.

[G83] Qual a sua maior alegria nestes antigos: dirigir ou o prazer de conservar?

[JB] Quando eu estou dentro de cada um deles, eu me transporto àquele tempo! Tanto no próprio carro quanto nos lugares em que passo com o carro ao dirigir. É algo muito interior e sentimental.

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Reportagem: Wellington Sena
Fotos: Wellington Sena e cedidas pelo entrevistado.


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