Pioneira da indústria automobilística no Brasil, a DKW Vemag dominou parte do mercado nacional, construindo, durante pouco mais de dez anos, automóveis econômicos, práticos e adaptados às condições do país. O ano de 1956 é muito importante para a indústria automobilística brasileira: ele marca o lançamento do primeiro carro fabricado no Brasil - a perua DKW Vemag, uma cópia do modelo alemão DKW fabricado pelo grupo Auto Union. Essa iniciativa pioneira deveu-se à Vemag S/A – Veículos e Máquinas Agrícolas, indústria fundada em 1955 e instalada no bairro do Ipiranga, em São Paulo.
A equipe do Garagem83 foi conferir de perto um destes raros exemplares dignos de atrair os olhares de qualquer apaixonado por carros. O modelo é um DKW Vemag 1965, mais conhecido como Série RIO. O exemplar, que pertenceu ao notório Damásio Monteiro da Franca, proprietário de um dos mais antigos cartórios notariais da Paraíba, está agora sob a tutela de um dos seus filhos, Damásio Franca Jr. Foi no final da década de 70 que Damásio Franca adquiriu o DKW Vemag das mãos do Sr. Luiz Bezerra Cavalcante, que residia à Rua Duque de Caxias no centro da cidade de João Pessoa/PB. Segundo Damásio Jr, o veículo ficou guardado por mais de 20 anos e só agora, após a morte de seu pai, resolveu restaurá-lo.
Em 1964, as rodas receberam um maior número de furações, agora no formato de pequenos trapézios em vez de elipses, além de calotas menores e com novo desenho, perdendo a disponibilização das supercalotas. A nova pintura em preto-fosco do painel evitava reflexos e dava aspecto de maior luxo ao carro. Os bancos foram redesenhados e receberam padronagem bicolor. A Vemag também preparou aproximadamente 200 veículos que constituiriam a série especial de denominação “Belcar Luxo”, equipados com faróis de milha, rodas redesenhadas com sobrearo, lavador de para-brisa e bancos individuais reclináveis. O motor também era mais potente, com 60 cv, equipado com um moderno misturador automático de óleo e gasolina, o Lubrimat.
Primeira Série 1964: novas rodas com furação trapezoidal para ventilar os freios. Perdeu a supercalota, agora fora de moda.
Em junho de 1964 a Vemag resolveu autorizar a modificação no sentido de abertura das portas dianteiras, da forma como todos estamos acostumados. Antes, vale salientar, a abertura das portas dianteiras era no sentido contrário. A vedação contra a entrada de água também foi melhorada. Também foi instalado um silencioso que consumia menos potência, com adoção de uma polia do motor mais pesada, que diminuía a vibração. Modificações internas incluíam a supressão da trabalhosa pintura em preto fosco do painel, que voltou a ser da mesma cor do carro, e um acabamento estofado passou a ser aplicado na aba superior, aumentando a segurança. Logotipos próprios também passaram a caracterizar a série 1001. Esta série já possuía lanternas traseiras bicolores exigidas pela legislação da época.
Em 1965 foi lançada a Série RIO, em homenagem à cidade do Rio de Janeiro. O modelo vinha com novas cores e grade frontal do para-choque modernizada, com a substituição da mesh-grille (em forma de colméia) por um quadriculado prensado. Apesar da simplificação dos para-choques, houve também uma modernização: os reforços tubulares e os projéteis saíram de cena e foram substituídos por garras revestidas de úteis almofadas de plástico emborrachado. A varredura dos limpadores de para-brisas passou a funcionar da esquerda para a direita.
Internamente, o estofamento do Belcar RIO ganhou novos desenhos ainda bicolores. O acabamento interior ganhou um aspecto ainda mais luxuoso com os novos frisos que revestiam as portas, sendo que as portas traseiras agora eram travadas por botões. O encosto do banco dianteiro passou a ser ajustável em três posições. Os instrumentos do painel receberam iluminação verde, um luxo enorme para a época. Quanto à acústica, o barulhento DKW tornou-se silencioso com a adoção do extensivo uso de um material fonoabsorvente de base asfáltica, o Toroflex.
Uma inovação que quase equiparou o DKW aos carros convencionais no que se refere ao abastecimento, e talvez tenha sido a maior da linha RIO, foi o Lubrimat. Com sua instalação, o tanque era abastecido apenas com gasolina, separando o óleo em um reservatório junto ao motor. O rendimento do combustível era aumentado por um processo preciso que misturava automaticamente a gasolina e o óleo, sendo possível percorrer até 1000 Km com um litro de óleo. O medidor de combustível passou a trazer uma lâmpada de advertência amarela, que alertava o motorista sobre uma eventual falta de óleo no reservatório. A partir de 1965, não havia mais botão para se ligar o motor, bastando apenas girar a chave. A forte crise econômica de 1965 provocou uma brusca queda nas vendas de carros, abarrotando os pátios cada vez mais.
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Reportagem: Wellington Sena
Fotos: Wellington Sena/cedidas pelo proprietário
Fonte adaptada: Clássicos do Brasil – DKW. Paulo Cesar Sandler. Editora Alaúde, 2011.