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Heronaldo Marinho e seu navegador Guga Costa, paraibanos que participaram do Rally dos Sertões.

Image gallery 04/09/2012
Poeira, lama, calor de derreter os miolos ou frio úmido, nas madrugadas, estradas de asfalto e terra, picadas na mata, desfiladeiros e planícies. Atravessar grandes cidades e pequenos vilarejos, em contato com povos hospitaleiros e de uma simplicidade emocionante. Tudo isso faz parte do Rally dos Sertões.

Além de brava competição, o evento é também uma grande lição. Competidores de todas as partes do mundo se deparam com uma realidade desconhecida e com paisagens jamais vistas. 

Quanto maior a dificuldade, maior o prazer em vencê-la. Assim são os competidores e o povo sertanejo.

O contraste entre o cenário e os personagens é grande. Basta imaginar a passagem de máquinas possantes, velozes e de alta tecnologia envolvida, por caminhos onde, muitas vezes, nem sequer ainda trafegam carros de boi.

Realidades que se misturam de um jeito muito forte e marcante. Os corredores, cobertos de poeira e cheios de garra, emocionam-se com a corrida em si, mas também com a acolhida que recebem. E aprendem muito a respeito do sertanejo que, como dizia o escritor Euclides da Cunha, “é, antes de tudo, um forte”. Assim se traduz o Rally dos Sertões: Emoção, velocidade, adrenalina, superação, lição de vida e cidadania.

O Garagem83 entrevistou o piloto Heronaldo Marinho e seu navegador Guga Costa, paraibanos que participaram do Rally dos Sertões na categoria UTV.

[GARAGEM83] Essa foi edição comemorativa de 20 anos do Rally dos Sertões. Heronaldo, você já havia participado deste Rally alguma vez?

Essa foi minha terceira participação, sendo que as duas primeiras foram na categoria Quadris. Esse ano estreamos nos UTV’s.

[GARAGEM83] Como foi que você teve esse insight em querer participar de um Rally como o dos Sertões?

Acredito que todos que curtem o Off Road sonham em um dia participar de um Rally dos Sertões. Comecei a planejar isso em 2007, decidi que iria participar nos quadris, então comecei a preparação participando do RN 1500, o Cerapio e qualquer outra prova que tivesse oportunidade. Em 2009 consegui viabilizar e enfrentamos pela primeira vez o desafio do Sertões.
   
[GARAGEM83] O UTV é um protótipo que entrou numa categoria experimental neste ano de 2012. Foram quantos dias de prova com o UTV? Você comprou ou alugou especialmente para esta prova?

Na verdade foram 11 dias de prova. O UTV é um veiculo novo desenvolvido a partir dos quadriciclos e que hoje é sucesso na Europa e nos EUA. Comprei um veiculo e preparamos para atender as exigências do regulamento, a maioria das alterações dizem respeito à segurança. O UTV transmite o mesmo prazer da pilotagem do quadri com muito mais segurança. A categoria já estreou com o pé direito, com um grid de 12 veículos, o que é bastante para uma prova como o Sertões. Quem anda se apaixona, pois atende aos amantes de moto, quadri ou carro.

[GARAGEM83] O Rally começa em São Luiz/MA e termina em Fortaleza/CE, num percurso de mais de 4800 Km. Quais as principais dificuldades encontradas durante a prova?

O Sertões é sobretudo uma prova de resistência, uma prova que leva tudo ao limite, pilotos, máquinas, apoio, organização, todos os envolvidos sabem que enfrentarão 11 dias onde tudo pode acontecer. Uma prova como esta pode ser ganha ou perdida por qualquer detalhe e consegui controlar tantas variáveis ao longo de 11 dias e 5.000 km é um grande desafio, mas também é altamente gratificante. Consegui completar a prova e chegar na rampa de chegada já é uma vitória.

[GARAGEM83] A sua equipe, PARAIBA UTV TEAM, entrou com dois veículos UTV. Qual foi o problema que o tirou da prova?

Como falei, qualquer detalhe pode mudar tudo no Sertões. Estávamos com o equipamento muito afinado e nos primeiros quatro dias já conseguimos uma vantagem confortável e a partir do quinto dia começamos a administrar essa vantagem e entender o quanto nossos concorrentes conseguiam andar. Infelizmente, no sexto dia, inicio de uma etapa maratona e com 680 km para serem percorridos, tivemos um problema mecânico que nos tirou da prova. Durante a manutenção, após a quinta etapa, o mangote de alimentação do motor não foi conectado como deveria, isso fez com que o motor puxasse muita poeira e batemos o motor no meio do Jalapão. Mas Rally é assim mesmo, ficamos felizes em ver que estávamos muito competitivos. Andando nos UTV’s estavam dois campeões de Sertões nos quadris, um nos carros, um piloto de Porsche Cup e um de Stock Car, então andar bem com um grid desse nos deixou muito animados para os próximos anos.

[GARAGEM83] Como é conhecer o sertão do Brasil sob a perspectiva de um piloto durante uma prova na maior parte do tempo em alta velocidade?

Na realidade durante as especiais você está tão concentrado que não dá para curtir as belas paisagens do sertão. Mas o restante do tempo é muito legal, somos sempre muito bem recebidos por todas as comunidades onde passamos; é incrível ver a alegria do povo quando a caravana do Rally chega.

[GARAGEM83] Deu pra perceber o nível de profissionalismo da organização e da prova. São inúmeros os equipamentos e itens de segurança exigidos; um deles é o SENTINEL. Fale para o leitor do Garagem83 um pouco desse equipamento.

Nas provas de Rally normalmente a gente termina enfrentando muita poeira nos trechos e seria muito difícil e perigoso fazer ultrapassagens sem algo para auxiliar, pois quem vai à frente realmente não consegue ver que existe outro piloto atrás querendo ultrapassar. O Sentinel auxilia nesse processo, com ele o piloto que quer ultrapassar ao chegar a 150 metros do piloto que vai a frente pode acionar o equipamento e um sinal sonoro e luminoso é emitido no veículo que vai a frente, o piloto a frente é então obrigado a dar passagem a quem vem atrás. Como dizemos nos Rally: piloto alcançado é piloto ultrapassado.

[GARAGEM83] Em sua opinião o que você sentiu mais falta nesta prova para um melhor rendimento da equipe como um todo?

O Sertões demanda uma preparação e uma organização na parte do apoio, que por falta de tempo, não conseguimos fazer esse ano. O desgaste é muito grande e normalmente os mecânicos viram noites trabalhando nas máquinas, depois de alguns dias todos já estão muito cansados e as chances de erros começam a aumentar.

[GARAGEM83] Qual a etapa da prova mais desgastante em termos físicos?

No Sertões não existe etapa fácil, mas em termos físicos o dia que quebramos foi muito desgastante, eram 680 km dentro do deserto do Jalapão, com temperaturas de mais de 40º C. Largamos às 4:30 da manhã e muitos competidores só chegam a noite. Depois de três ou quatro dias assim a coisa começa a pegar.

[GARAGEM83] Você pretende voltar a competir em 2013?

Com certeza, o Rally é uma modalidade apaixonante, uma vez que o bichinho do Rally pegou você não consegue escapar mais... (risos).

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Matéria: Wellington Sena
Fotos: David Santos, Andre Chaco, Vinicius Branca, Marcelo Maragni, Theo Ribeiro, Gabriel Barbosa, Gustavo Epifanio, Renato Cukier, Ricardo Leizer. (Webventure)


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